Alienação
Por Cristiano Bodart
A palavra alienação vem do Latim “alienus”, que significa “de fora”, “pertencente a outro”. Em português utilizamos a palavra alheio. Na Sociologia ser alienado é estar alheio aos acontecimentos sociais, ou achar que está fora de sua realidade. É não se reconhecer como agente produtor da História.
Karl Max em sua obra Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844, utilizou a palavra para designar o estranhamento do trabalhador com o produto do seu trabalho, ou seja, o trabalhador não mais dominando todas as etapas de fabricação e não possuindo os meios de produção para tal, acaba não se reconhecendo no produto produzido. O produto passa a ser visto sem ligação com seus produtores (ao ver um artesanato surge quase sempre a pergunta: quem fez? O mesmo não ocorre com os produtos industrializados). A perda de contato e controle do produto final de seu trabalho manifesta-se quase como uma perda de sua essência. É como se...
Karl Max em sua obra Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844, utilizou a palavra para designar o estranhamento do trabalhador com o produto do seu trabalho, ou seja, o trabalhador não mais dominando todas as etapas de fabricação e não possuindo os meios de produção para tal, acaba não se reconhecendo no produto produzido. O produto passa a ser visto sem ligação com seus produtores (ao ver um artesanato surge quase sempre a pergunta: quem fez? O mesmo não ocorre com os produtos industrializados). A perda de contato e controle do produto final de seu trabalho manifesta-se quase como uma perda de sua essência. É como se...
o produto tivesse surgido independente do homem/produtor, como um feitiço, daí o termo utilizado por Max: Fetichismo da mercadoria.
O sentimento identificado por Marx (denominada alienação econômica), de o trabalhador olhar para a mercadoria e enxergá-la como algo que não o pertence, algo distante, alheio a sua vida consolidou o conceito de Alienação nas Ciências Sociais. Assim o conceito se expandiu para além das relações de trabalho. Assim como o trabalhador, na leitura marxista, não pode se beneficiar plenamente dos ganhos da produção, nem atuar para mudar essa situação, uma vez que está não lhe pertence (alienus), assim ocorre em outros campos da vida social.
Hoje ser alienado é está alheio dos acontecimentos sociais, é não compreendê-los, é não atuar sobre eles. Um intelectual ao desprezar o conhecimento popular pode está alienado, uma vez que ao se fechar em seu mundo, acaba não se reconhecendo como parte do todo. Geralmente o adjetivo de alienado está ligado à população desprovida de conhecimentos científicos e filosóficos, uma vez que limitados as “lentes” da religiosidade e/ou do senso comum acabam ficando alheios (alienus) dos fenômenos políticos, econômicos e científicos.
O termo utilizado como antônimo de alienado é a palavra crítico. Não no sentido popular e mais usual da palavra (falar mal de algo). A palavra crítica, de origem grega e que vem de Kritikos, está que quer dizer de alguém "apto a fazer um julgamento”. No Português, o adjetivo "crítico" tem uma origem direta da palavra "crise". Nos momentos de crise, existe um sentimento de incertezas, onde passamos a julgar toda a realidade aparente. Ser crítico é justamente julgar as aparências, as informações recebidas, a contestar, a buscar saber “dos porquês”? Para que? Onde? Como? Para quem? Em fim, é buscar compreender o mundo que nos cerca, para que possamos atuar plenamente sobre ele, entendendo que somos parte dele.
· O trabalho escravo como recurso do capitalismo contemporâneo
Por Vanessa Mutti - IFBA
Desde 13 de maio de 1888 a escravidão foi abolida no Brasil. Sem precisar mergulhar nas aulas de história do Brasil, sabemos que a escravidão legou um processo discriminatório e desigual que é, inclusive, um reflexo da identidade do povo brasileiro. Mas apesar do correr dos anos, ainda na contemporaneidade, convivemos com novas formas de escravidão humana. Diferente das condições colônias, a escravidão contemporânea surge como instrumento para garantir a cadeia de lucro do capital. Estima-se que o Brasil tem cerca de 200 mil pessoas vivendo em situação de trabalho análogas ao trabalho escravo.
De maneira geral, o trabalho escravo é caracterizado por manter cativos em condições degradantes de sobrevivência, restrições do direito de ir e vir e relações de subordinação sob ameaça de violência física e psicológica. Sobe esse aspecto, a necessidade de sobreviver e a vulnerabilidade contribuem para a exploração laboral, para o tráfico sexual e para exploração infantil.
Em nosso país, o trabalho escravo acontece nas cidades e no meio rural. Está presente na indústria têxtil, na pecuária, na agricultura, na indústria madeireira, na construção civil, nas carvoarias. O que pode ser verificado no infográfico da revista Galileu.
Nas cidades o trabalho escravo compreende prática em que pessoas trabalham mais de 12 horas por dia, quase que ininterruptas, sob condições de moradia inadequados em locais insalubres e com alimentação precária e restrita. Geralmente contraem dividas absurdas com a pessoa que os contrata, tornando-se refém das custas para a viagem ou deslocamento, assim como para conseguir o próprio sustento e garantir moradia e alimentação. Geralmente vivem amontoados entre os instrumentos de trabalho e beliches de dormir.
Recentemente filme nacional Crô, de Bruno Barreto, abordou de forma lúdica a temática da escravidão na industrial têxtil de grandes grifes.
No meio rural o latifúndio é pano de fundo para a escravidão. Nesse caso, o agronegócio, a exploração intensiva e o extrativismo são as principais cooptadoras de mão de obra escrava. A pecuária, o extrativismo de carvão e de madeira revelam os maiores números.
No Brasil o Ministério do Trabalho e Emprego, o Ministério Público, a Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE), a Pastoral da Terra, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura e ONGs monitoram denúncias e combatem esse tipo de exploração.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agencia internacional que tem como objetivo promover oportunidades para que homens e mulheres tenham acesso a um trabalho decente e produtivo, através de condições de liberdade, igualdade, segurança e dignidade. Segundo a OIT o trabalho escravo no mundo tem duas características em comum, que são: a negativa de liberdade e o uso da coação.
Sendo assim, não é apenas a privação de liberdade que torna um trabalhador escravo, mas a privação de dignidade. Ou seja, quando são violados seus direitos fundamentais, impedindo o livre exercício dos direitos pessoais, que legitimam o direito à vida, à liberdade e à segurança, bem como o direito ao trabalho, à educação, ao repouso e à liberdade de escolhas ideológicas.
Confira também a lista suja do trabalho escravo[1] em: http://www.reporterbrasil.org.br/pacto/listasuja/lista.
Vivemos uma época histórica da humanidade demarcada por mudanças profundas nas diversas formas de sociabilidade, cujos traços mais destacados são os processos e complexos que enfeixam a circularidade e a multidisciplinaridade que abarcam os sujeitos coletivos em fenômenos globais.
Um mundo veloz no universo aberto, interligado em sistemas comunicativos que, em muitas situações, deixam as pessoas isoladas nas suas relações virtuais. Uma contradição de base, nesses novos tempos: a internet nos propicia contatos imediatos com os mais remotos lugares do globo terrestre e até fora da nossa morada terrena, nas estações espaciais, em breve, nas primeiras colônias de exploração da Lua e de Marte.
O meu mundo pode se resumir à minha máquina, para trabalhar, estudar, viajar, alimentar e até amar. Um novo mundo, este que se conforma na interação de velhas estruturas que ainda permanecem e determinam muitas das nossas formas de ser e ir sendo. A sociedade em que vivemos, com as suas angústias, medos, injustiças, conquistas, realizações e destruições, repousa sobre um alicerce frágil: a possibilidade imediata de catástrofes produzidas pelos próprios humanos, com a enorme capacidade destrutiva armazenada em milhares de ogivas atômicas.
Caminha a humanidade, no solo frágil da sociabilidade humana, repousando sobre uma “casca de noz” - na afirmação do físico britânico, Stephen Hawking. Os diversos complexos que se interagem e se influenciam, sob a regência inexorável do capital, condiciona a sociedade humana sob o risco permanente de um retorno à barbárie, nessa nova época histórica destruição da natureza e esgotamento de recursos naturais ainda considerados estratégicos. A sacralização do lucro, no altar do mercado, suprassume espaços de possibilidade de humana autêntica. Para além do capital se apontam indicativos de uma nova sociabilidade, possível e necessária, mas ainda distante dos nossos horizontes imediatos.
A filosofia, levantando as suas asas ao entardecer, na bela expressão de Hegel, pode e deve examinar esse nosso mundo, na sua nova época histórica, analisando de maneira crítica a realidade dos complexos que enfeixam as determinações humanas, apontando perspectivas e caminhos, cuja efetividade só se torna possível com a execução prática da apreensão analítica.
A Filosofia se instaura com o existente, real concreto ou realização imaginária, buscando, no perpassar dos ciclos civilizatórios, dos quais participamos independente das nossas vontades individuais, apontar dúvidas e questionamentos, mais do que propor certezas ou verdades absolutas. Por isso a necessidade da ação, como instrumento de validade da análise. Hoje, o mesmo espanto e curiosidade dos primeiros pensadores ainda são métodos pertinentes e válidos. Precisamos nos espantar diante desta realidade desumanizada, para exercitarmos a curiosidade do entendimento e da apreensão que se desdobra nas formas possíveis de ação.
A Filosofia se instaura com o existente, real concreto ou realização imaginária, buscando, no perpassar dos ciclos civilizatórios, dos quais participamos independente das nossas vontades individuais, apontar dúvidas e questionamentos, mais do que propor certezas ou verdades absolutas. Por isso a necessidade da ação, como instrumento de validade da análise. Hoje, o mesmo espanto e curiosidade dos primeiros pensadores ainda são métodos pertinentes e válidos. Precisamos nos espantar diante desta realidade desumanizada, para exercitarmos a curiosidade do entendimento e da apreensão que se desdobra nas formas possíveis de ação.
Curso de Filosofia ad Hominem
filosofiaadhominem@gmail.com
Referências:
CONFORTI. Luciana Paula Trabalho escravo no Brasil contemporâneo: um olhar além da restrição da liberdade. Em: < http://www.trabalhoescravo.org.br/noticia/79>. Acesso em 18 de outubro de 2014
FLAVIO, Costa. Escravos da moda. Em: http://www.istoe.com.br/reportagens/152925_ESCRAVOS+DA+MODA. Acesso em 18 de outubro de 2014.
MORAES, Mauricio. Brasil é elogiado, mas fica entre 100 piores em ranking de trabalho escravo. Em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131016_indice_escravidao_global_brasil_mm.shtml>. Acesso em 18 de outubro 2014.
MALI, Tiago. Raio X do trabalho escravo. Em: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI333998-17805,00-RAIO+X+DO+TRABALHO+ESCRAVO.html. Acesso em 18 de outubro de 2014.
http://www.oit.org.br/. Acesso em 18 de outubro 2014.
http://reporterbrasil.org.br/trabalho-escravo/perguntas-e-respostas/ Acesso em 18 de outubro 2014.
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